O Sítio Arqueológico Bebidinha, localizado no município de Buriti dos Montes, no norte do Piauí, é um dos mais impressionantes conjuntos de gravuras rupestres do Brasil. Popularmente conhecido como Poço da Bebidinha, esse sítio integra o complexo arqueológico e natural do Cânion do Rio Poti, região marcada por formações rochosas monumentais, cursos d’água encachoeirados e uma rica biodiversidade típica da caatinga. A presença de inscrições rupestres nesse cenário evidencia que, muito antes da ocupação colonial, a área já era um espaço fundamental para povos pré-históricos que habitaram o território piauiense.
A história do sítio remonta a milhares de anos. Estudos arqueológicos indicam que as gravuras do Poço da Bebidinha podem ter sido produzidas há mais de 5 milênios, refletindo a relação simbólica, ritual e cotidiana de grupos humanos com a paisagem. As marcas foram talhadas em baixo-relevo nas rochas da Bacia Sedimentar do Parnaíba, utilizando técnicas de polimento e percussão direta, o que demandava esforço e conhecimento sobre a dureza do arenito local. O resultado é um painel de imagens que impressiona pela diversidade e quantidade: são símbolos geométricos, representações de animais, figuras humanas, marcas de pés, mãos, mandalas e outros signos ainda enigmáticos para a ciência contemporânea.
O nome Bebidinha está associado à geografia do lugar, pois o sítio está próximo de um poço natural formado pelo Rio Poti, que se torna um ponto de parada, descanso e acesso à água. Esse aspecto reforça a hipótese de que o local funcionava como um espaço de encontro e permanência para populações antigas, sendo ao mesmo tempo área de sobrevivência e de expressão cultural. A abundância de recursos naturais, como água, fauna e vegetação adaptada ao semiárido, fazia do lugar um território estratégico para os primeiros grupos humanos que se deslocavam pelo sertão piauiense.
A localização do sítio, em terras que pertenciam à antiga Fazenda Espírito Santo, e hoje situadas em propriedade privada que abriga o Nazareth Cânion Lodge, também faz parte da sua história recente. A condição de área privada, embora restrinja a visitação, acabou favorecendo em certa medida a preservação do sítio, evitando uma degradação ainda maior por ocupações desordenadas. Contudo, o isolamento não foi suficiente para impedir problemas: há relatos de erosão natural, intemperismo das rochas, desmatamento e interferência humana, fatores que ameaçam a integridade das gravuras. Pesquisas acadêmicas, como o estudo intitulado “Paisagem, Gravuras, Problemas de Conservação: Um Olhar sobre o Sítio Poço da Bebidinha”, apontam a urgência de ações de conservação e valorização patrimonial.
Hoje, o Sítio Bebidinha se destaca não apenas pelo valor arqueológico, mas também pelo seu potencial turístico e educativo. Ele integra uma das maiores concentrações de gravuras rupestres do Nordeste, espalhadas por dezenas de quilômetros ao longo do Cânion do Poti. A cada visita, o observador tem diante de si não apenas desenhos antigos, mas fragmentos de uma história que ainda está sendo decifrada: a história dos povos que, muito antes da chegada dos colonizadores, já habitavam, interpretavam e reinventavam a paisagem sertaneja.
Assim, falar do Sítio Arqueológico Bebidinha é reconhecer um patrimônio que vai além da estética rupestre. Trata-se de um testemunho vivo da ancestralidade do Piauí, um território onde o homem pré-histórico deixou marcas de sua espiritualidade, de sua visão de mundo e de sua capacidade criativa. Ao mesmo tempo, é um chamado à responsabilidade contemporânea: preservar essas gravuras é preservar a memória coletiva, a identidade cultural e as raízes profundas que ligam o presente ao passado remoto da região.